sábado, 11 de dezembro de 2010

Machu Picchu: missão cumprida

O desfecho de uma longa jornada com tamanha bagagem de vivências e aprendizados, não poderia ter como melhor destino que Machu Picchu. Este sem dúvida alguma é um lugar que constantemente é descoberto, na medida em que se caminha em direção a montanha, volta-se para 1911, quando estas ruínas foram encontradas pela primeira vez. Após 6 km de caminhada, depois da pequena cidade de Santa Maria, em meio a uma floresta que anuncia a Amazônia Peruana, o viajante remete-se para um momento metafísico, onde a noção de tempo confunde-se, não se sabe se o ano é 1911, 2009, ou quem sabe o século XV. Após cerca de 2 horas de subida por centenas de degraus, sob efeito da falta de oxigênio, chega-se no topo da montanha, fato que exige bom preparo físico por parte daqueles que preferem chegar andando até as ruínas. Ainda com a respiração ofegante pelo desgaste sofrido na subida, surge o som de centenas, senão milhares de pessoas. O Sítio Arqueológico de Machu Picchu tornou-se um dos lugares mais visitados do mundo. Imediatamente aquela imagem mística do lugar é ofuscada pela presença de uma multidão de turistas bem trajados e equipados com potentes máquinas fotográficas, consumindo água mineral e comida dos fest foods da entrada do parque que arrecadam bons euros e dólares com seus preços nada modestos. Já no interior do sítio, cada metro quadrado é disputado. Quando menos se espera surge um pelotão de turistas em fila indiana que compram um pacote turístico e contratam guias locais. Muitos certamente não sabem e nem saberão por onde estiveram. Em meio à tamanha confusão busca-se, com dificuldade, algum canto para tentar entender os motivos de tal construção, ver o que viram os construtores desta cidade. A 2.400 metros, Machu Picchu data do século XV. Sua estrutura revela o grau de organização da sociedade que a construiu. Na planta urbana, os centros cerimoniais e moradias apresentam prédios bem construídos. Abaixo de toda esta estrutura composta por blocos de granito, repousa uma camada de cascalho, técnica de terraplanagem utilizada para drenar as chuvas constantes da região e garantir a estabilidade dos prédios. A isto se somam os terraços e canais de drenagem demonstrando inteligência no cultivo e preservação de seus recursos naturais. Tamanha complexidade arquitetônica, capaz de suportar a instabilidade tectônica das falhas geológicas que a circundam, faz de Machu Picchu Patrimônio Mundial da UNESCO.

Entrada do Parque!!

Enfim, Machu Picchu!

Com os amigos no portal de entrada da cidade.


Autor: Rogério Marques Silva



A Capital do Império Inca

A Bolívia começa a ficar para traz. A partir da fronteira com o Peru, as diferenças tornam-se nítidas. Tão logo se chega ao território peruano, o padrão das casas, campos e estradas constituiu uma nova paisagem. No longo trajeto de Copacabana a Cusco, os Andes peruanos tomam outro aspecto. Ao longo da estrada pode-se observar uma maior cobertura vegetal do que no altiplano, fato que contribui mais para o estabelecimento de atividades pecuárias como a criação de bovinos e lhamas, este último, animal símbolo destas regiões e sempre presente ao longo do percurso. Fato que deve ser mencionado é a altitude observada nos Andes, com altitudes muitas vezes próximas dos 6.000 metros, revelando picos cobertos por neve, fornecendo lindas paisagens a partir do contraste das cores escuras das rochas vulcânicas com o branco dos nevados. Na chegada em Cusco à noite, nota-se que se está em uma cidade que destoa das demais observadas na região. A 3.400 metros acima do nível do mar suas luzes nas partes superiores das montanhas logo demonstram que está é uma das maiores cidades do país. Com 480.000 habitantes, Cusco demonstra sua imponência, sendo o principal centro administrativo do Império Inca. Na Praça das Armas, tem-se a impressão de se estar em uma Torre de Babel. Basta sentar-se em um dos bancos da praça central e observar os transeuntes que aos milhares se esbarram, pessoas de diferentes países com seus costumes e línguas diversos, fazendo desta cidade sem dúvida uma das mais cosmopolitas do planeta. Tudo isto sob o olhar atento da Catedral da Praça de Armas e a Igreja da Companhia de Jesus, símbolo de um fundamentalismo religioso que sem pedir licença adentrou em uma cultura milenar fazendo implodir as suas bases. A Pedra dos Doze Ângulos virou uma espécie de “Meca” para os visitantes do lugar, que se espremem ao seu lado na busca de uma melhor posição para um registro fotográfico. Por suas ruas e becos, há peruanos com lhamas, trajados com roupas típicas de seus antepassados, trajes que hoje servem para muitos tirarem o sustento de sua família, posando para fotos com turistas, e que um dia serviram para celebrar feitos heróicos em épocas de festas nos tempos soberanos.

Muro dos Incas e dos "Incapazes" (Veja o filme "Diários de Motocicleta")

A catedral de Cusco

Vista da Plaza das Armas

Autor: Rogério Marques Silva


Copacabana

Saindo da caótica cidade de La Paz, a viagem continua pelas tortuosas estradas bolivianas, que agora seguem em melhores condições. As belas paisagens fazem parte do caminho em direção ao Peru. Intercalam-se nevados, povoados rústicos, casas de adobe e campos limitados por cercas de pedra. O mais impressionante é a imensidão azul do Titicaca que surge aos poucos e vai tomando conta da paisagem, revelando toda sua grandeza. Em um trecho, a rodovia é interrompida pelas suas águas. As pessoas descem dos veículos e atravessam em pequenos barcos. Ótima oportunidade para sentir o vento frio que sopra sob as águas. Enquanto isso, cada carro ou ônibus cruza aquele “braço” do lago em uma frágil balsa. Em meia hora chega-se ao outro lado. Enquanto os veículos não chegam, pode-se visitar o pequeno comércio, que se aproveita dessa parada dos viajantes. Nesse local tivemos uma experiência pitoresca. Ao colocar o pé dentro de um mercado de peixes sentimos a força da cultura local. Fomos surpreendidos pela manifestação espontânea das vendedoras – as cholas – que aos gritos diziam “truta”, “truta”, “truta”; uma gritaria ensurdecedora que aumentava na mesma medida que avançávamos pela frente das bancas. Elas saltavam dos seus bancos gritando desesperadamente em nossa direção. Nossa! Saímos de lá o mais rápido possível, ainda sem saber o que tinha acontecido. Quando o ônibus chegou, continuamos a viagem serpenteando as encostas, sempre com o Titicaca ao lado. Ao longe surge o povoado de Copacabana, que leva esse nome devido as suas semelhanças com a nossa praia carioca. Uma linda cidade, lugar especial de vielas e uma bela vista do pôr-do-sol sob o Titicaca. A cultura aflora por todos os cantos desse povoado e, devido ao turismo, existe uma forte mistura entre o novo e o velho. O passeio de barco até a Isla del Sol é imperdível. Do alto da ilha pode-se avistar a imensidão azul do lago, alimentado pelos nevados que aparecem ao longe. A presença inca é atestada pelos terraços e ruínas presentes na ilha e basta uma visita à catedral para perceber a dominação dos espanhóis sobre essa cultura. Enfim, passamos a virada do ano em Copacabana, mas não naquela movimentada e festiva, e sim nessa, às margens do Titicaca, que reserva ao viajante a tranquilidade e reflexão sobre a entrada de um novo ano.


O azul do Titicaca

Subindo a Isla del Sol

Copacabana


Autor: Bruno Freitas da Silva